Acordei pensando em Deus e na criação do mundo terreno. Vamos e convenhamos: Ele devia estar num momento de profunda inspiração quando decidiu criar o nosso Brasil. Afinal, por aqui, colocou tudo de bom que lhe vinha à cabeça.
Satisfeito com a sua obra-prima, logo voltou a atenção para o restante do mundo e esqueceu-se de criar quem dela cuidasse. Foi aí que a coisa desandou. Vieram então os primeiros habitantes, oriundos de outras paragens, os paleoíndios, há cerca de 10.000 anos.
👇👇👇👇👇Monumento Nacional ao Imigrante, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.
Viviam em cavernas, caçavam, coletavam, produziam cerâmica, pontas de flechas e pinturas rupestres que são desenhos e gravuras em rochas. Platão, talvez, tenha se inspirado neles quando escreveu “O Mito da Caverna”.
Aos poucos, espalharam-se por este imenso território, pois também neste ponto Deus foi abusivamente generoso.
Depois de gastar seu potencial criativo nas nossas terrinhas, ele repetiu a fórmula nas demais, mas dosando comedidamente as belezas, riquezas e tamanhos. Afinal, sabia que aqui havia exagerado em tudo.
Talvez até hoje se arrependa de não ter criado o guardião do Brasil, deixando o acaso trazer uma multidão de imigrantes vindos de todos os cantos do mundo. Resultado: uma salada de frutas genética e cultural tão grande que nem ele teria imaginado.
Mas pensando bem, mesmo com a “falha” na sua obra brasileira, Deus acertou.
Está para nascer uma miscelânea mais linda e sedutora que a nossa.
Porém, convenhamos: no que toca a posturas, emoções e lógica de raciocínio, somos um plantel de contradições tropicais.
Entre tantos animais dos quais poderia ter tirado inspiração, o povo escolheu por quase unanimidade o caranguejo, que se recusa a andar em linha reta, atrasando e sabotando o próprio caminho. E, quando ameaçado, esconde-se num buraco qualquer, ferindo quem tenta resgatá-lo.
Ah, se ao menos tivéssemos aprendido com as borboletas e os pássaros, que inspiram poetas e voam livres!
Mas não. Preferimos o instinto das onças, das piranhas e das cascavéis, cada um cuidando apenas da própria sobrevivência.
Será exagero meu?
Basta olhar o sucesso estrondoso dos vilões das novelas e dos políticos sem escrúpulos, elevados a heróis nacionais e como ratos e sanguessugas, festejam nos porões da imoralidade.
No fim das contas, talvez Deus não tenha culpa nenhuma.
A culpa é nossa enquanto povo, por não sabermos cuidar do paraíso que ele nos deu.
Regina Carvalho- 18.10.2025 Tubarão SC